Síntese: Avaliação
da aprendizagem escolar: um ato amoroso
Amoroso aqui, é
entendido como o cuidado do educador para com o seu educando até que ele
aprenda o que é necessário. Todo educando aprende, se efetiva e afetivamente
ensinado. Atuar dessa maneira significa amorosidade, e pois, inclusão. A partir
daí ele cumpre o papel de sinalizar para o professor de que o sucesso positivo
do ensino-aprendizagem depende também de cuidado permanente, incansável e
amoroso. Quero sintetizar que o ato de avaliar a aprendizagem, por si, é um ato
amoroso.
Provas/Exames tem
por finalidade, com relação a aprendizagem escolar, verificar o nível de
desempenho do educando em determinado conteúdo e classifica-lo em termos de
aprovação/reprovação, separando assim, os “eleitos” dos “não eleitos”.
Essa característica
das provas/exames, porém, não é graciosa. Ela está comprometida, como os
enunciados dos textos e falas, com o modelo de prática educativa e de sociedade
a que serve. No caso das Provas/Exames, temos o seu conhecimento na origem
moderna que se sistematizou a partir do século XVI e XVII, com a aparição da
sociedade burguesa. A prática que conhecemos é herdeira dessa época, pois a
sociedade burguesa é marcada pela exclusão e marginalização de grande parte dos
seus membros. Basta notar que os slogans da Revolução Francesa, por
si, eram amorosos, mas nenhum deles é traduzido como prática histórica e
concreta da sociedade. Essa liberdade foi definida no limite da lei;
evidentemente, da lei burguesa. E a fraternidade permaneceu como palavra que o
vento levou (Praticar a fraternidade seria negar a possibilidades da sociedade
burguesa, que tem por base a exploração do outro pela apropriação do excedente
do seu trabalho, ou seja, pela apropriação da patê não paga pelo trabalho
alheio e nesse contexto, o ato pedagógico, e ainda menos, o ato das provas/exames
poderiam ser um ato amoroso).
A denominação
avaliação da aprendizagem é nova e foi atribuída a Ralph Tyler, que a cunhou em
1930. Ele é educador norte-americano à questão de um ensino que fosse eficiente
e aqui no Brasil ele é conhecido pelo seu livro Princípios Básicos de currículo
e ensino, publicado e traduzido pela editora Globo.
Essa denominação
mudou, porém a prática continuou a mesma, as de provas e exames. Ela é muito
difícil de ser mudada por que a avaliação, por si, é um ato amoroso, mas a sociedade
em que está sendo praticada não o é, daí vence a sociedade e não a avaliação.
Enquanto as finalidades e funções das provas e exames são as mesmas que as da
sociedade burguesa, as da avaliação a questionam, por isso é tão difícil
realizar a avaliação na integralidade do seu conceito.
O ato amoroso é o
ato que acolhe ações, alegrias e dores como eles são; acolhe para permitir que
cada coisa seja o que é, neste momento. Para tanto, o ato amoroso tem como
característica não julgar. Os julgamentos até aparecerão, mas com o objetivo de
dar curso à vida e não de excluí-la. É como na passagem de Maria Madalena, onde
Cristo inclinou-se aos seios dos seres humanos, enfrentando os fariseus com a
seguinte frase: “Atire a primeira pedra quem não tiver pecado algum”. E com
essa expressão ele a acolheu, por isso ela foi curada no corpo e na alma, pois
o acolhimento integra e o julgamento afasta. Esse ato de Cristo foi
um ato amoroso, que por si só se tornou acolhedor, integrativo e inclusivo.
A avaliação tem por
base acolher uma situação, para então (e só então), ajuizar a sua qualidade,
tendo em vista estender-lhe a mão se necessário for ela tem como base a
inclusão e não a exclusão; a inclusão e não a seleção. A prática de provas e
exames exclui parte dos educandos, por basear-se no julgamento, já a avaliação
os inclui por devido ao fato de diagnosticá-los e, por isso, oferecer-lhes
condições para encontrar o caminho a seguir.
De um lado, a
avaliação da aprendizagem tem por meta ajudar o aluno em seu crescimento, e por
isso, na sua integração, ajuda-o na apropriação dos conteúdos significativos.
Aqui, ela se apresenta como meio constante de fornecer suporte ao aluno no seu
processo de descoberta e de constituição de si mesmo.
Por outro lado, a
avaliação da aprendizagem responde a uma necessidade social, pois a escola
recebe o poder social de educar as novas gerações, e por esse motivo deve
responder a esse poder. Esses dois objetivos só fazem sentido e caminham se
estiverem juntos, porque se for dada a atenção apenas ao sujeito indivíduo,
iremos cair no espontaneísmo; e se centrarmos apenas o segundo, chegaremos ao
auge do autoritarismo.
O caminho é o meio, onde o
crescimento do educando articula-se com o coletivo, não no sentido de
atrelamento, mas no sentido da responsabilidade que a escola necessita ter com
cada indivíduo.
Assim sendo, a
avaliação da aprendizagem auxilia educando e educador em sua viagem comum de
crescimento, e juntos eles constroem a aprendizagem, testemunhando-a tanto para
a escola quanto para a sociedade. A construção, para ser construção, deve
incluir, seja do ponto de vista individual, seja do ponto de vista coletivo,
integrando e educando num grupo de iguais, do todo e da sociedade geral.
É importante estar
atentos à função constitutiva de diagnóstico para uma avaliação que crie bases
para a tomada de decisões, por meio de encaminhar os atos subsequentes, na
perspectiva da busca de maior desempenho nos resultados. São elas:
Propiciar a auto
compreensão, tanto do aluno quanto do professor, por meio dos atos de avaliação
como aliados na construção dos resultados satisfatórios. É necessário ter
consciência de onde se está, para assim conseguir acolher aonde quer que for.
Como aliados, aluno e professor podem se auto compreender a partir da avaliação
da aprendizagem.
Motivar o
crescimento. A avaliação motiva na medida que diagnostica e cria assim, desejos
para obter resultados satisfatórios. Os alunos sentem-se mal com comentários
desabonadores feitos pelos professores no momento da devolução de trabalhos e
dos seus resultados, sentindo-se desmotivados pelas palavras. A avaliação pode
e deve ser motivadora para o aluno e para o seu crescimento e busca pelas
possiblidades.
Aprofundar a
aprendizagem, dando ao educando a oportunidade de aprender o conteúdo obtido
nos exercícios e de forma apropriada, pois aqui o exercício é tido como para o
aluno como fonte de possibilidades e de múltiplas oportunidades de aprender. Os
exercícios podem e devem ser tomados como exercícios de aprendizagem.
Auxiliar a aprendizagem.
Se tivermos a compreensão de que a avaliação auxilia na aprendizagem,
certamente estaremos fazendo o melhor para que os nossos alunos aprendam e se
desenvolvam.
Por fim, para
cumprir essas funções, é importante que estejamos atentos a alguns cuidados que
serão usados como instrumento de operacionalização:
Ter ciência de que, por meio desses
instrumentos de avaliação estamos solicitando ao aluno que manifeste sua
intimidade. Não podemos, então, aproveitar essa manifestação para “tomar posse”
desses alunos, respeitando sua intimidade e a cuidando com carinho.
Construir
instrumentos para coletas de dados e avaliação, com atenção aos pontos: Cobrir
uma amostra significativa de todos os conteúdos ensinados e aprendidos de fato,
para os planejamentos de ensino para a avaliação; Compatibilizar as atividades
motoras, trabalhadas e desenvolvidas na prática do ensino aprendizagem;
Compatibilizar os níveis de dificuldade, pois um instrumento de avaliação não
pode ser fácil ou difícil demais. Ele deve ser compatível, em termos de
aprendizagem; Usar uma língua clara e compreensível, para salientar o que se
deseja pedir, porque ninguém pode responder uma pergunta sem compreendê-la;
Construir instrumentos que auxiliem a aprendizagem dos alunos, seja por métodos
de demonstração, seja por essencialidade ou pelos exercícios inteligentes
cognitivos propostos.
Por último, é
preciso estarmos atentos também ao processo de correção e devolução dos
instrumentos de avaliação escolar dos estudantes:
Quanto a correção,
é importante não usar somente o vermelho como cor predominante dos exercícios
mal sucedidos. Pode-se usar outra cor, e não é necessário borrar os trabalhos,
tendo um afeto positivo na hora da correção.
Quanto a devolução,
é importante que o professor, pessoalmente entregue a avaliação ao educando,
pois foi dele que o professor a recebeu. Isso implica respeita pelo aluno e a
oportunidade de um processo de diálogo construtivo entre educador e aluno.
Assim a avaliação se destina ao diagnóstico, por isso ela é inclusão,
por que destina-se a melhoria no ciclo de vida. É visível a nossa dificuldade
em compreendê-la e praticá-la... Mas, o convite deve ser feito. É uma meta a
ser traçada e trabalhada, para que com o tempo, se transforme em realidade, por
meio de nossas atitudes e ações, pois somos nós os responsáveis diretos por
esse processo.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação
da aprendizagem escolar: um ato amoroso. In:
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação
da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22. Ed. São Paulo:
Cortez, 2011, p. 201-213.
Essa atividade foi uma síntese que meu grupo fez para a apresentação do seminário do texto do autor LUCKESI, Cipriano Carlos.Avaliação da aprendizagem escolar: um ato amoroso.
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